Eu envelheci. A nostalgia do Natal e toda a atmosfera que se instaura para mais um ano que vai tecendo seu adeus me fizeram pensar em cada passo dado até chegar ao estágio de vida que se apresenta a mim. A cada dia, a saudade da infância parece aumentar e isso soa como um sinal de que, sim, a vida adulta parece ter chegado e com ela todo aquele discurso que não acreditávamos quando menores. Queríamos, àquela época, apenas crescer, mesmo que não soubéssemos o quanto o peso dos anos seguintes exigiriam, dentre outras coisas, a veracidade do ser, a responsabilidade do escolher e a autonomia do querer.
Minhas palavras de fim de ano soarão diferentes dos anos anteriores. Não em termos de sentimentos, pois estes me acompanham como o mais fiel bichinho de estimação que rastreia o caminho de seu dono sem sequer questionar suas certezas. Mas, soarão diferentes em termos de reflexão, do aprendizado evoluído até aqui e do que espero para os dias que se seguirão. Os meus desejos confundem-se com meus aprendizados e a cada dia estou mais convicto de que são estes os grandes derradeiros a nos guiar pelas trilhas descobertas na vida. Um ano, sem dúvidas, difícil. Em diversos âmbitos, presenciamos nossos gritos calarem-se diante das imposições surdas; compadecemos, mesmo agoniados, daquilo que nos empurravam goela abaixo; a barriga doeu como um soco de um possível envolvimento numa briga de rua; nossos olhos arderam, incrédulos com tamanhas desgraças, com os discursos de ódio, com as ações sem fundamentos, com a eleição de algozes que vieram nos abster de uma boa noite de sono... Respiro. Precisamos respirar, compassadamente. Ficamos cada vez mais dependentes de exercícios que nos livrem do peso do que é ser adulto e do que é enfrentar dias tão difícies como esses que vão ficando no passado, mas cravados de maneira tão bruta no nosso presente. Aprendi que não quero conviver com pessoas inverídicas; cansei de suas caras falsas, de seus relacionamentos abusivos e de suas palavras que soam como o pior ruído a ser escutado durante a vida. Queria a inocência da criança de volta. Cansei de suas comodidades favoráveis apenas quando lhes convêm. Prefiro que se afastem, por si mesmas. Não me farão falta. Nem que me reste apenas alguns ou nenhum, mas saberei que aquilo que restar é a verdade que se apresentou a mim. E vou ficar feliz de abraçá-la, de amá-la e de dizer o quão completo eu mesmo sou. Por favor, só fique se for para me transbordar. Aprendi que discursos são hipócritas, assim como as ações. Aprendi a desacreditar em muitas pessoas, em jornais, na televisão. Aprendi que alguns falam de amor e de liberdade, mas em pequenas atitudes cultuam o ódio e o aprisionamento. Entoam o perdão, mas guardam a mágoa. Discursam em prol da ajuda, mas arquitetam o melhor para si. Acreditam no empoderamento coletivo, mas nomeiam seus aliados. Oram pela paz, mas contribuem pelas intrigas. Mera diversão de seres humanos que se assustam pelos discursos e pelas ações gratuitas de ódio, mas sequer olham para suas atitudes e seus reflexos diante do espelho. Nos usam como quer, como acham que deve ser e quando você se tocar que te abusam e vai de encontro ao que faziam, não valerá mais nada daquilo que valia quando era conveniente ao outro. Não nos iludamos mais. Aprendi que os ditos amores eternos também se acabam. Tentei viver amores eternos. Talvez tenha falhado, talvez falharam comigo. Não quero me culpar, nem devo culpar o outro. Somos assim mesmo, como máquinas complexas que a cada dia parece pairarmos apenas sobre nós mesmos: alguns no modo de autorreflexão; outros, apenas no modo do ego. Amar o outro exige que amemos a nós mesmos primeiro. Talvez seja um despreparo pessoal, mas a busca pela evolução deve continuar. E quem disse que sabemos o que é amar? No momento, talvez, o amar se apresente no ganhar das experiências, fazendo-nos acreditar que também aprendemos com as perdas, com aquilo que não deu certo e com o que acabou de virar história. Está no livro da vida agora, como algo que marcou e que vai me guiar. Aprendi, em suma, que é preciso renovar a esperança. Eu quero renovar o aprendizado da vida, quero viver dias melhores e fazer de toda essa nostalgia do Natal e do fim de ano motivo suficiente para incrementar em mim a bondade que espero no outro, o carinho que me retribuem nas ações, a sabedoria que me eleva a um estado de espírito sem precedentes, a irmandade que partiu das raízes da minha família e os votos de esperança de que se construa um futuro, sim, de mais amor e compaixão, de alegria e comunhão, de força e união. A esperança de renovar os laços de amizades que tanto me fortalecem; de amar aqueles que me amam na mesma intensidade de seus sentimentos; de bater o coração junto ao outro nos pequenos presentes de atitudes diárias que me proponho a conceder; de ser grato pelo que o outro faz a mim; de agradecer, de persistir e de ter fé. Deixo aqui, minha gratidão de ter crescido, de que mesmo tendo saudade de épocas passadas, é para o futuro que devemos viver, é o presente que devemos enaltecer e é pelo passado que devemos continuar a aprender. Por mais que o andar seja propriedade minha, não conseguiria caminhar sozinho. Portanto, obrigado a você que anda comigo e que despertou em mim tudo isso que vos escrevi. O aprendizado continua, meu amor se fortalece a cada dia e a esperança de continuar tendo as verdadeiras almas de criança junto a mim refloresce. Vivemos dias difíceis, mas a luta só é digna e fortalecida por ter vocês juntinhos a mim. Feliz Natal e um 2017 de esperanças.
0 Comments
Leave a Reply. |
BioGraduando de Arquitetura e Urbanismo, amante da música e de séries e filmes. Séries em andamento sempre que a arquitetura deixa. Ama os amigos como família e a família como anjos divinos encarregados de nos transbordar amor. Os melhores momentos da vida foram, são e sempre serão ao lado daqueles que te dão o conforto nos (a)braços do amor.
Release
Dizem por aí que tenho o dom de encantar com as palavras. Verdades ou boatos, continuo escrevendo como forma de levar às pessoas o que sinto, o que passo e o que penso. As conexões entre aquelas, por assim dizer, faz-se de grande importância para que o objetivo final das palavras soadas (ou escritas) seja alcançado. Ou seja, de que se transponha a força do pensamento e a pureza do coração.
Bem vindxs ao Indeed, onde o de fato figura-se entre as mais singelas incertezas. @vinirodriguesarq
Textos
All
Parceiros
|