O destino? Ia-se pouco além dos limites conhecíveis. As companhias? Faziam-se entendíveis até aqueles momentos nostálgicos iniciais. A direção? Um Norte envergonhado beirando outras direções de sua rótula original. O local? Um rio de conhecimentos diversificados longe das beiras do rio, perto do cerne histórico. O acaso? O acaso surpreende.
Eu tenho muitos motivos para acreditar naquela famosa frase, soada por muitas bocas, das mais experientes às mais jovens em contato com as experiências que a vida lhe sugere: 'Everything happens for a reason'. Sim, sim... nada é por acaso. As peripécias daquela vida (sim, a mesma vida que lhe dá um caminho, ou vários; que lhe gera certezas e dúvidas; que lhe ensina a vitória da perda e a comemoração das conquistas) pareciam estar guardadas na mala que levava toda a ansiedade pelo novo check-in. Ah, vida, se eu soubesse que aquele final estaria guardado na maleta de viagem, com certeza já o teria antecipado para o meio do enredo. Talvez não. Até porque antecipar o grand finale poderia estragar o fim daquele que podemos chamar de primeiro capítulo, já que é dali que parte a história do acaso. No meio literal dos trancos e barrancos, de poucos conhecidos (e a descoberta desse quantitativo para o que antes parecia muito), restou-me esperar aquela música de balada ecoar para distante de meus ouvidos, sendo levada pela brisa e pelas gotas de chuva que insistiam em derramar durante nossa estadia. As camas dormiam em silêncio, com medo de serem acordadas por alguma atitude que seria interpretada erroneamente; tinha-se medo daquilo e eu não entendia o porquê. As aparentes lágrimas que confundiam-se com a precipitação, diluíam-se num viscoso vish. De onomatopeias, bastava o do choro imbuído nos sentimentos mais confusos daquele momento. No levantar meio preguiçoso, o acaso bateu à porta. Ou melhor: adentrou no pequeno habitar provisório e me convidou para passear, como a mais bela inesperada visita que chega em nossa casa e fica para o almoço, pro lanche, pra janta, pras risadas... Num majestoso e significante 'Como você está?', um presente me foi dado por aquele a que eu agradeço praticamente todas as noites. Ai, acaso, se tirarmos o sufixo da origem de seu vocábulo com certeza a expressão sobre o que está acontecendo conosco vem à tona. Eu tentei achar mil respostas (como sempre tento fazer) para essas coisas da vida, no meu surpreendente popular. Ah, mas para quê? É um fato, é uma dádiva, é um acaso, um presente. Viva-o! Eu poderia dizer que dali em diante, ao retorno para as terras de origem, o acaso ainda me visita para lembrar do quanto, mais uma vez, presenteou-me com alegria. Eu poderia dizer que a felicidade é como aquela de uma criança que ri gostosamente quando assiste a um desenho animado. É o acaso das palavras, de talvez uma alma gêmea que veio para desconcertar e provar o quanto as famosas primeiras impressões nunca serão as últimas. É um processo de desconstrução e surpresa das descobertas da vida. Se eu fosse um rei de um pequeno ou majestoso Império, com certeza poderia profanar para meus companheiros que, a partir daquele céu nublado num solo vizinho, de poucas noites conflituosas e descobertas significantes, eu ganhei uma joia: uma joia que eu denominei de pérola.
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A foto estava jogada sobre a mesa de fórmica clara. O plástico ainda encobria aqueles sorrisos nervosos para saltar sobre alguma moldura que a caracterizasse e a lapidasse como numa mais joia rara que agora tomava seu valor final. Os olhos dividiam espaço em rostos de lágrimas e bocas com sorrisos meigos expressos sem a menor preocupação em disfarçar. Não precisava relatar o momento de esplendor do amor que brindava os centímetros impressos daquela recordação ainda sem um bordo adequado.
Os braços entrecruzados, os rostos colados, os ombros tocados... as mais simples formas e os mais singelos gestos que demonstram a naturalidade com a qual o amor foi conquistado passo a passo, num idem 'manual de instruções' (puf... como se existisse isso para o amor). Não era mais necessário falar nada; a imagem já falava por si. Por todos. Defronte a um espelho, teria dito que poderia mergulhar num amor que, propositadamente, poderia me afogar. E o espelho infinitou um amor que aceitamos como aquilo que achamos merecer. Entenda, Charlie. Perpassa por nossos olhos as mais variadas pessoas, os mais variados acontecimentos, os mais variados mundos, cujas portas abrem-se para a experimentação do pouco e do muito que se podem oferecer. Deixa-se a invisibilidade de lado e projeta-se para a vida, importando-se com aqueles que se importam consigo e aprendendo com aqueles que te invisibilizaram, afinal foram eles mesmos que fizeram-te enxergar a si mesmo e a perceber que a gente aceita o amor que acha que merece. Se não resolveu aos outros, solucionou pra mim. A foto me ratifica isso. Não se corre atrás de quem não merece o nosso amor. Afinal, quem realmente ama (sim, aquele amor de verdade) não precisa suar para contemplar-se com tamanho sentimento; é uma maratona que cansei de participar e, neste âmbito, o sedentarismo me faz muito bem. O amor chega a passos leves, até mesmo descalço, pede licença, senta na poltrona, toma um café e respinga em cada pixel do momento que guardamos e fazemos questão de lembrar, agora numa devida moldura que entorna um turbilhão de carinho e respeito pelo sentimento nutrido pela reciprocidade de cada um. Sentimo-nos em um infinito, onde a nitidez não se faz invisível e opacidade não precisa tratar. - A gravidez é uma bênção divina! Já sabe o sexo do bebê? - Ainda não, mas decidimos que só iremos descobrir no momento do parto. - Mas, e o quarto da criança? As roupas? Vão comprar de que cor? Amarelo? O amarelo parece ter sempre tido o azar da rejeição. Ou, no mínimo, de ser a terceira opção dentre a (ir)restrita palheta de cores dos futuros pais que, historicamente, optam pelo céu azul másculo ao amanhecer ou o singelo rosa da flor que aflora. A dúvida, portanto, forja-se no amarelo. Pobre amarelo! Talvez tenha daí surgido o termo popular do "amarelou", num âmbito de fugitivo, desistente, fracassado. O amarelado de uma folha que envelhece e perpetua em sua superfície o longo passar dos anos também é o amarelado do pensamento e das ações, ambos antiquados, nas predeterminações que geram sistemas de opressão, idênticos aos que lemos nos livros de história. Lembra? A história dos detentores da mão de obra e os soldadinhos de chumbo do grito proletariado, submissos a todo o sistema produtivo? Sim, a sinopse é a mesma, num típico filme melodramático perpassado para um terror. Em ambos, a carga do sistema pesa para o famoso "lado mais fraco", o do oprimido. Desde crianças, somos coagidos a todo tipo de influência e, infelizmente, com a pouca idade (e, às vezes até mesmo com a avançada) não conseguimos distinguir as mensagens perpassadas, muitas vezes indignas de serem ouvidas. Apenas lamentadas. A corrente que aprisiona o tipo de direcionamento do azul para meninos, rosa para meninas também é a mesma corrente que prende a liberdade de pensamento, a satisfação do próximo, a felicidade alheia, a expressão de ser o organismo vivo que lhe permite ser. A corrente que condiciona o carrinho masculino, a boneca feminina; a camisa azul ou preto e branco, a blusa decotada pomposa escarlate ou amarelo-bebê; os filmes de ação e aventura, as comédias românticas; o rock, o pop; o algoz, o delicado. Mas, mal sabem aqueles que condicionam ou que se acham detentores do meio de produção desse sistema que todo esse conjunto de ações, fatos, pensamentos e crenças levam à decadência pessoal; ao engano de uma produção, que não passa apenas de produtos desolados, forjados em sua própria macheza forçada goela abaixo, que, assim como no sistema de produção, reproduz sem ter noção do meio em que si próprio está submetido; a corrente, na verdade, não está no oprimido, no lado frágil, mas sim no opressor, que se engana ao achar que detém essa força psicológica, quando na verdade amarra, aos poucos, as algemas em seus próprios pulsos. A chave da abertura dessa tranca está em algum lugar de si mesmo e, se posso lhes dar uma pista, reside no canto da mente onde abrigam, empoeirados, o seu preconceito, o seu medo e a sua impotência de saber lidar com a sua própria liberdade, a liberdade alheia que não lhe compete, a sua própria expressão e as mais variadas formas culturais de se ver e de se viver. Não vai amarelar agora, não é? A rotina é pesada. Do levantar ao deitar, somos diariamente organismos que, literalmente, vivem. A bênção de poder abrir os olhos para mais um dia que começa pelo raiar do sol que adentra a janela entreaberta, aquele vento frio que nos faz encolher e dizer 'só mais um pouquinho' e os primeiros toques das gotas de água que, por gravidade, nos abraça e percorre o nosso corpo; da respiração ofegante e quase abafada do encolhimento da pele e aproximação do próprio corpo.
No levantar dos pés descalços à procura do par de chinelo também reside a significância do levantar da cabeça para todo o mundo perante nós mesmos. E diante de tantas coisas que nos abalam ou que nos afligem, existe uma força estranha que, na maioria das vezes, não sabemos que a possuímos; uma força estranha que me faz levantar e seguir o meu caminho, que diante da grande imensidão das pequenas coisas me faz por um sorriso no rosto quando, na verdade, a primeira lágrima ameaçava transbordar; uma força estranha que nos põe no nosso lugar, aquele lugar de cairmos em nós mesmos e sabermos que tudo podemos, desvelando nossa natureza interior, a ferocidade de nosso organismo, como selvagens inerentes às mais perigosas matas. Sim, tudo podemos. A força estranha do smile, do be strong, do be happy, do yeah, I can... a força estranha que nos faz cair a ficha de que diante de qualquer obstáculo nós poderemos contar com ela para contorná-los, tenham eles o tamanho que tiverem, a forma que vierem, o peso que carregarem. A minha força estranha me faz abrir os olhos a cada manhã e garantir que a partir daquele início de mais um capítulo no livro da vida eu tenho a força de erguer o meu próprio corpo, investigar o calço dos meus pés e levantar-me para o sorriso da vida, com o meu sorriso, com as minhas alegrias, acompanhado dos meus desejos. Obrigado, minha amiga força estranha, por apresentar-se, bater à minha porta e ser muito bem vinda à minha história. Pode entrar... As lições passadas para casa têm grande eficácia para o aprendizado humano, o raciocínio temporal, a elucidação dos fatos e a coragem da mudança. Diante de tantas coisas que passamos nos trilhos da vida, abastecidos por enésimos elementos combustíveis, além do carregamento que vem posteriormente, chega-se a um estágio em que o trem de parar na estação da consciência e, assim como o maquinista, aproveita-se o tempo da parada para um descanso e a organização de tudo aquilo que se viu e viveu.
Diante do espelho da vida, a reflexão do eu que sobreviveu a tantos episódios, em filmes de diversos gêneros, em tardes de devaneios ilimitados ou noites encobertadas pelo temor da cena. A reflexão exibe nosso próprio eu, nosso estágio momentâneo decorrente de vários estágios anteriores. A reflexão mostra a percepção de nós mesmos. A sensação de se ver decorre a noção de quem somos e de toda a ânsia pelo que queremos a partir do momento que levantarmos a cabeça, fecharmos aquela água corrente que nos desperta e sairmos para mais um trajeto sobre os trilhos. Quando você se percebe, a noção de mundo parece perder-se ou confundir-se perante a nova lenha que se autoimpõe no forno pessoal. Fazer por você mesmo soa como uma grande vitória, quando se tem energia e consciência de que, sim, eu sou mais importante para mim mesmo; que não se importa com o que passageiros sem tickets irão achar da expulsão da estação que me pertence; que não importa a carga que eu levo para outra estação, mas que com certeza o seu peso não passa de mera noção física e que o meu combustível é potente o suficiente para descarregá-la nos próprios trilhos esvoaçantes que são deixados para trás. Quando você se percebe, a valorização torna-se sua melhor companheira, aquela que diz que tudo posso, que tenho condições de seguir em frente, que sou eu mesmo (e mais ninguém) quem inicia a caminhada e concede a força eletromotriz para a minha própria continuação; que me abre os olhos para as pessoas certas, valorizando quem realmente merece ser valorizado; que não me deixa mais perder tempo com pedras no sapato. Pra quê? Tira o sapato e vai descalço mesmo!; que me diz quem eu sou e aceita, por assim, ratificar os pensamentos e as ações pessoais. Quando você se percebe, perde-se o medo de ser quem tu és e passa-se a ter a certeza de que quem és pode, sim, passar por todo tipo de trilho (esteja ele intacto ou danificado), por todo tipo de paisagem (esteja ela ensolarada ou nublada), por todo tipo de estação (esteja ela cheia ou esvaziada). O que importa é que, primordialmente, o trem tenha uma identidade e dela parta todas as energias necessárias para que a engrenagem tenha força suficiente de dar o primeiro giro das rodas, sem remoer o que está sendo deixado pra trás e sem temer o que vai encontrar pela frente. Nostalgia. Lembrava-me por esses dias da infância, um tanto quanto solitária, mas proveitosa em seus mais diversos sentidos. No sentido do que é ser criança, de suas implicações, de sua mágica, de suas limitações e do seu significado.
A delicadeza dos tempos, o calor e o frio aguçados, as poucas preocupações limitadas a ajoelhar-se no chão de concreto e infantilizar todo aquele, então, significado de mundo: a brincadeira com os carrinhos, o som emitido pelas cordas vocais que 'onomatopeiam' o motor do automóvel; o jogar da bola esvoaçante pelos chinelos que metaforizam as traves brancas do estádio, cujo público era a alegria e a emoção de poder entregar-se ao que era ser criança; as histórias, contadas, inventadas, imaginadas para elevar-nos à condição de criaturas que sequer sabiam o que era o mundo lá fora, mesmo estando debaixo das estrelas e daquele luar que rendiam gritos de gol ou que esvaneciam o 'boa noite' de mais um dia sendo criança. As horas transcorreram sem pedir licença, anunciando, apenas, durante todos os dias o envelhecer epidérmico, biológico e o também mental, sem persuadir-nos com interpretações que indiquem um pensamento retrógrado. Não, digo-lhes na evolução do pensamento e da importância que acabamos percebendo nas grandiosas minúsculas coisas ao nosso redor que, enquanto crianças, enxergávamos como tais, no sentido da infância de ver e sentir. Aquele chão de concreto agora não mais me dá tempo de ajoelhar, mas de dividir o piso para senti-lo ao lado daqueles que não nos permite interpretações errôneas, que não precisam dizer tudo que sentem (apenas sentir), que não precisam brigar ou ofender para esclarecer ou sanar dúvidas (apenas reagir, com um abraço, um beijo)... A gente cresce, as responsabilidades também, percebemos que os limites são impostos por nós mesmos, mas ganhamos uma pequena coisa nessa estrada da vida que devemos agarrar como fazíamos com aquele bicho de pelúcia antes de todas as noites ir dormir ao som das cordas do movimento harmônico do violão do pai soando as notas da página 61 do livro de cifras do Roberto Carlos... A amizade. A amizade e a pausa para concentrar todas as possíveis palavras que impossibilitam a transcrição do sentimento que lhe é intrínseco. Ah!... paradoxo tão presente! A amizade que nos impõe que o significado da vida vai muito além das compras do fim de semana, da luta cotidiana pelos frutos monetários, da massa corrida que pode cobrir a alvenaria, da lâmpada incandescente que, temporariamente, nos permite a luz, dos planos infalíveis totalmente falíveis, das risadas e choros decorrentes... O suspiro. Nada de superficial está em jogo e nem sequer está no banco de reservas. É descarte. É o chegar da maturidade e a percepção de que não dá para viver esse cotidiano tão cheio de deveres sem estar ao lado desses minúsculos grandiosos seres que te acompanham mesmo de longe. Um telefonema, uma mensagem, um bom dia, uma bronca, um abraço: tudo diante dos amigos é a sinonímia da perfeição, da alegria e de que, sim, a vida vale muito a pena. Tudo se resolve com o mínimo que se pode abastecer esses pequenos motivos de validade da vida, dos momentos indispensáveis aos seus lados, das mil e uma palavras ditas e do único sentimento que nos une na melhor fórmula de coesão entre essas pessoas: a reciprocidade do amor, sem medidas, sem cautelas, sem fronteiras. Há algum tempo, escrevi-lhes sobre o peso das palavras, que carregam consigo uma vasta massa de significância, atrelando todo o pensamento cadenciado (ou não) aos sentimentos abaulados e costurados na máquina que não é fruto da tecnologia destes tempos: o homem.
Hoje, o zoom inteligível para o qual me insiro é o de um dos termos mais cautelosos que acredito existir no vasto vocabulário, seja ele escrito ou falado. Mas, digamos que esse é um vocabulário onde se atrelam os sentimentos, as vontades, os anseios. Cauteloso? Sim, cauteloso. Pelo menos era o que a grande maioria das pessoas deveria ter em mente quanto aos remetimentos da expressão Eu te amo. Questiono-me se as pessoas que se preparam para lhes satisfazer (e, talvez, o próximo também) ao emanar importante expressão realmente sabem o que ela significa e qual o significado dela ao outro. Se falamos do peso das palavras e do cuidado que temos que ter com tais, certamente as expressões estão inseridas em tal contexto. Por que dizer eu te amo no famoso boca pra fora, concorda? Não, não diga. Não é certo. É desproposital. A lei do coração não permite. Certamente, deve-se enquadrar em algum crime, coagido pela lei; a do sofrimento, do erro, das interpretações incorrigíveis, talvez. A certeza do sentimento, maybe, falhe em algum ponto, perca-se em alguma interseção; mas, sejamos precavidos quanto a isso. O sentimento pode ser firme, mas a certeza de que o outro também lhe confere o mesmo significado é importante para que o eu te amo não seja emanado por emanar, não seja levado pelo vento trespassado por uma brisa fria, mas que possa transformar-se em um nós nos amamos, tendo a certeza latente à plenitude dessa expressão, num aconchego sentimental onde o mais puro abraço transforma-se em um devaneio de real existência onde nada apoia nossos pés e não há nada que impeça nosso voo. Não, não diga eu te amo por dizer, ou por ser bonito, ou por querer amar às rédeas, ou por querer um re-amor, se me permitem o neologismo. Por que? Porque, simples e complicadamente, não se diz 'eu te amo' ao léu. Com os devidos espaços ao sentimento, a rota muda de direção, não deixando de lado, porém, as grandes lembranças e aprendizagens das estradas já atravessadas. Mudar de direção é difícil, convenhamos, mas a vida, às vezes, exige-nos que tenhamos tamanha força e propriedade para aprender a lidar com as decepções, os obstáculos e, assim, garantir nossa própria felicidade e sucesso.
Por meio da oratória em conversa com os acasos que a senhora vida nos entrega ao longo da caminha, uma expressão não me saiu da cabeça, por tamanha adequação ao contexto e às explicações mais cabíveis em um tema que, com certeza, a psicologia entende bem mais majestosamente que este pobre coração engajado nos argumentos e entendimentos da vida cotidiana. À respeito dos fortes, daqueles que se mostram indestrutíveis, duros na queda, como chama o popular, mas que esconde os verdadeiros sentimentos no âmago de seus medos, rancores, títulos e pensamentos: seriam eles uma espécie de fortaleza de cristal, no âmbito do invólucro aparentemente imponente, rígido, mas que se desmantela em seu próprio enganar sentimental. Devo confessar que tenho aumentado minhas leituras a respeito da psicologia humana, não com vieses científicos, mas com caráter pessoal, daquelas palavras que saem munidas de todo tipo de sentimento, do interior mais meigo e singelo das pessoas que escrevem. Tais palavras, tais textos e suas variadas discussões me encarregam de diversos temas, como as condições de lidar com as diversas situações que a vida nos entrega e nos testa, nossa capacidade de pensar, de agir, de raciocinar, de amar, de respeitar, de mudar... Mudar, esse verbo de primeira conjugação que sucinta várias vezes e que pesa ao ser levado em consideração. Não precisa mudar, já diria composição de Saulo Fernandes e Gigi. A tão difícil sabedoria de qual o ponto acurado que nos concede a certeza do equilíbrio no jogo em que entram em campo a razão e o coração. Mudar, com certeza, é um caminho a ser seguido para o detonar das fraquezas, mas até que ponto a mudança confronta-se ao nosso jeito de ser? Até que linha da grande área a mudança pode chegar sem cometer falta e garantir um gol para o nosso próprio bem estar? O equilíbrio entre as seleções deve ser a arma mais forte a ser utilizada por esse professor, que unicamente comanda os dois elencos. Quantas discussões não já vimos a respeito de pessoas que mudaram seus instintos após diversos fatos ocorridos ao longo de suas trajetórias? Parece enredo de novela, mas não precisamos ir longe para se deparar com uma realidade tão presente. A amargura daqueles que um dia já foram corações embalados; a tristeza daqueles que um dia já esboçaram mil sorrisos e os distribuíam sem a cobrança indevida da felicidade (e vice-versa); a hipocrisia para aqueles que um dia pediram-lhe para mudar e, diante da mudança, julgam-te pelo que se tornou... É, meu caro, é preciso saber viver, como diria outra reunião de verdades musicais. A fortaleza de cristal me preocupa, não por mim, mas a esses que assim o são. Volta-se às perguntas, talvez sem respostas, de qual seria o limiar para esconder esses sentimentos que, aos olhos exteriores, não lhe interferem em nada, mas que no fundo causam-lhe profundas guerras internas, uma guerra civil dentro de si, que concebe destroços elementares da razão de sua existência cristalina, os pedaços que evidenciam sua fragilidade antes imaterializada no próprio título fortificado, de seu modo de ser e agir, de seu modo de lidar com os outros e exigir que a mudança venha de fora, quando, na verdade, ela deveria vir de dentro. Ah, sim, o equilíbrio de lidar com isso tudo: talvez, esse seja o nome do gol que um dos times esteja procurando para lidar com o melhor dele mesmo. A fortaleza de um material frágil, de uma fragilidade cristalizada pela refração da luz que confunde as partículas que lhe penetram, outras que refletem e outras que se absorve. Peço licença à Imagine Dragons para evocar uma de suas poéticas e garantir que "I'm just the same as I was; Now don't you understand; That I'm never changing who I am. É interessante como o passar do tempo nos oferece concepções distintas a respeito do que ocorre no cotidiano dessa estrada. É engraçado olhar para trás, seja um passado distante ou próximo, e perceber como ideias previamente concebidas e defendidas com clamor vêm água abaixo e dão lugar a uma nova visão. O título, porém, não nos leva ao belíssimo órgão da visão. Nos leva à dicção. E, se formos mais a fundo, podemos orientar a dicção para a chamada oratória, tudo que se remonta ao nosso interior de devaneios e pensamentos exauridos por um canal que permite nos comunicar com o mundo, falar de nossas experiências, afirmar, questionar, produzir sons, sorrir, tremer, calar-se. Algumas leituras e experiências me confirmaram a tão poderosa ferramenta que é o pensamento. É como se o corpo humano fosse uma grande máquina (e o é) controlada por um ser interior, dotado de exércitos conflitantes, guiados e influenciados por diversos confrontantes, vindos de armas também poderosas: o coração e a mente. O ser interior: será que podemos chamá-lo de alma? OK. Acredito que não daremos motivos para um motim caso o denominemos assim. Pois bem. Falava a respeito do poder dessa peça humana, acima de tudo biológica e, no seu âmbito íntimo, uma peça de instintos e vontades. Do pensamento emana as mais variadas ações, que comandam outras peças dessa máquina, dentre elas, os produtos da oratória, do ser falante, das sinapses produzidas e convertidas em uma energia possui um peso: as palavras. Essas pequenas caligrafias que não sobrevivem com a solidão tornam-se monumentos de grande importância com a ida desse caminhar diário, fato que, atrás, não se ligava muito, não é? O berço nos ensina as formas básicas de comunicação; o andar, as formas de lidar com esta última. Ver e reaver, com os devidos cuidados semânticos dos verbos anteriores, ações e convicções é um dos grandes prazeres da arte do pensamento. Não só deste, mas também da emoção, do sentimento, que argumenta forte em muitos momentos. Oh, coração, por que és tão forte? Por que não entras numa parceria com a mente e, assim, o reino das células humanas unem-se e comandam sem deixar espaço para nenhum vazio? Por que? Seria tão mais fácil... Remetendo a um grande sábio que mostrou-se muito mais que esperava, um ato nobre e decorrente de nossas próprias imperfeições é, com certeza, parar e refletir o verdadeiro peso das palavras, daquilo que foi dito ou do que poderá ser emanado. Seria maravilhoso se muitos fizessem isso. Seria mais maravilhoso ainda se não fosse tão difícil que certas palavras e suas derivadas conexões se fizessem entendíveis, sem margem para erros. Mas erros existem, não é? Sim. O perdão também, não? Sim. E ambos os lados? Também. Mas, não se pode responder pelo outro, nem entendê-lo por completo. Correto? Injusto cuidar do peso oratório para não transbordar enquanto o limite inverso não existe, num tipo de aferição ideal? Provavelmente. Bingo! Salve, John Ruskin! Quantas palavras não foram ditas em vão? Quantas foram derramadas em um leito onde corria uma água que não precisava de tamanha profundidade para que pudéssemos banhar-nos? Quantas passaram à frente onde residia a compreensão e o sentimento e não se fez nem olhar pela janela para ver se alguém batia à porta? Quantas tiveram seu verdadeiro destino solapado pelo sono decorrente das horas, dos dias, das semanas, das causas? Quantas foram recíprocas? Quantas tiveram seu verdadeiro valor medido no peso da consciência, no peso do coração e na média que pondera nossas vidas? Quantas? Deus... palavras são tão comunicativas! E ao mesmo tempo, tão confusas e dolorosas! Mas, tenhamos calma. Se da nossa imperfeição sobressai um caráter de honradez, devo-me orgulhar por ir atrás de um dicionário que nos entregue significados acurados de nossas atitudes e de nossos sentimentos. Paciência é uma palavra de ordem; esperança também. No controle da máquina humana, mente-coração configura um binômio que nos exige controle e conhecimento. O pensamento é o ator dessa cena, ensaiando, sem medo de esforços, as ações das peças decorrentes de si. O que se deve medir dessa intensa batalha? O peso? Sim, também. Mas, acima de tudo, a verdade, a verdade do sentimento e da razão empreendida para a ação da solução matemática e lógica da coisa; do esforço das tentativas de pronunciar palavras encaixadas, frases solucionadas, devaneios entendíveis, sentimentos compreendidos. E qual máquina isso nos afere? Talvez não saiba responder, mas acredito ser uma das várias que existe no mercado da vida: o da compreensão de uma grande célula marcada por vitórias sucessivas do coração. Atuar é realmente um dom. Grandes sábios entregaram-nos seus talentos para fazermo-nos acreditar em seus respectivos personagens, perpassados através de diversos meios findando atingir outro meio: o meio do pensamento, das indagações, do brilho ocular que, instigado de diversas emoções, prende-se em meio à cena do antagonista causando a sofrível tensão diante do casal de protagonistas ou o olhar desvanecido perante o beijo apaixonado do casal digno de um final feliz, onde prospere seu batalhador amor.
A vida é um grande teatro. Um grande cenário reside em nossa volta. Um cenário meio clássico, meio moderno, meio sarcástico, encantador ou burocrático, formado pelo balançar daquela cortina escarlate que a si evoca atenção. Cada pessoa que por nós circunda tem um papel. Um papel que lhes pertence. Não sabemos sua verdadeira fala, seu verdadeiro pensamento, suas ideologias, suas emoções e sentimentos. Enquanto 'eu' protagonizo a minha cena, os outros perfazem meus colegas da mesma cena, com a qual divido as falas em um cenário marcado pela emoção, pelos anseios, pelos medos, pelos paradoxos, pelas incertezas, pelas esperanças e pelo prazer de ter de descobrir os seguintes passos encobertos por um diretor que sabe o que faz. O olhar entra no palco das emoções ansiando dar o seu melhor. O 'eu' protagonista no teatro da vida não metaforiza ou simboliza um 'eu' limitado a si mesmo. Teatralizar não é nada fácil. Recordemos do dom para tal. Façamos do 'eu', assim, o 'eu' de cada um, tornando-o o agradável 'nós'. Afinal, a cena no background vida não deve ser um monólogo; que tenhamos, de maneira verdadeira, a presença de um elenco com o qual dividamos tamanha experiência. E que também façamos valer a experiência! Consigamos entreter o público com o nosso máximo, com a nossa voz, com o nosso instinto e respeito... com o nosso papel. Mas que não sejamos personagens descaracterizáveis. Sejamos nós. Nós somos o 'eu' protagonista. Cada um formador de todo o 'nós', sem diferenças ou razões para holofotes unidirecionais. A antropologia da vida revela-nos características de um 'eu' protagonista no espetáculo que é a vida, carregada de múltiplos significados, de pouquíssimas definições (ou, quem sabe, nenhuma), de variadas cenas, de múltiplos "corta!", de inteiros olhares para si e para outros... de verdadeiros esforços a dar o melhor de si. A antropologia revela-nos seu lado humanizador, entrando em cena com aquela festividade com a qual deve ser encarada qualquer tipologia de espetáculo, que nos entretêm do drama à comédia, da tragédia ao romance: nada melhor do que combater a tristeza com a alegria; por isso, "eu canto, eu danço, eu teatralizo (...)", num combate resistivo do cansaço da cena que, por vezes, nos assola. O cansaço... o cansaço das mesmas palavras, das mesmas cenas, dos mesmos erros, dos mesmos "corta!", do mesmo cenário, que parece não se movimentar, mantendo-se estático no âmbito de uma cena que parece não terminar. Mas, sem desistir, qualquer que seja o 'eu', qualquer que seja o seu papel, esse protagonista deseja, ao final, que suas emoções afloradas pelo limiar de sua própria pele penetre no entendimento da emoção do seu público e lhe arranque o melhor de seus, atentos ou desleixados, espectadores: o aplauso, a onomatopeia desvanecedora que busca o caminho o qual se faz ouvir, designando-lhe o sentimento de compaixão e consideração para com o artista que, ali, divide consigo a cena no teatro da vida. O nome do espetáculo? Ah... não me questione a respeito. Só sei que o mundo perfaz o palco e nós somos apenas seus majestosos atores. |
BioGraduando de Arquitetura e Urbanismo, amante da música e de séries e filmes. Séries em andamento sempre que a arquitetura deixa. Ama os amigos como família e a família como anjos divinos encarregados de nos transbordar amor. Os melhores momentos da vida foram, são e sempre serão ao lado daqueles que te dão o conforto nos (a)braços do amor.
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Dizem por aí que tenho o dom de encantar com as palavras. Verdades ou boatos, continuo escrevendo como forma de levar às pessoas o que sinto, o que passo e o que penso. As conexões entre aquelas, por assim dizer, faz-se de grande importância para que o objetivo final das palavras soadas (ou escritas) seja alcançado. Ou seja, de que se transponha a força do pensamento e a pureza do coração.
Bem vindxs ao Indeed, onde o de fato figura-se entre as mais singelas incertezas. @vinirodriguesarq
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