- A gravidez é uma bênção divina! Já sabe o sexo do bebê? - Ainda não, mas decidimos que só iremos descobrir no momento do parto. - Mas, e o quarto da criança? As roupas? Vão comprar de que cor? Amarelo? O amarelo parece ter sempre tido o azar da rejeição. Ou, no mínimo, de ser a terceira opção dentre a (ir)restrita palheta de cores dos futuros pais que, historicamente, optam pelo céu azul másculo ao amanhecer ou o singelo rosa da flor que aflora. A dúvida, portanto, forja-se no amarelo. Pobre amarelo! Talvez tenha daí surgido o termo popular do "amarelou", num âmbito de fugitivo, desistente, fracassado. O amarelado de uma folha que envelhece e perpetua em sua superfície o longo passar dos anos também é o amarelado do pensamento e das ações, ambos antiquados, nas predeterminações que geram sistemas de opressão, idênticos aos que lemos nos livros de história. Lembra? A história dos detentores da mão de obra e os soldadinhos de chumbo do grito proletariado, submissos a todo o sistema produtivo? Sim, a sinopse é a mesma, num típico filme melodramático perpassado para um terror. Em ambos, a carga do sistema pesa para o famoso "lado mais fraco", o do oprimido. Desde crianças, somos coagidos a todo tipo de influência e, infelizmente, com a pouca idade (e, às vezes até mesmo com a avançada) não conseguimos distinguir as mensagens perpassadas, muitas vezes indignas de serem ouvidas. Apenas lamentadas. A corrente que aprisiona o tipo de direcionamento do azul para meninos, rosa para meninas também é a mesma corrente que prende a liberdade de pensamento, a satisfação do próximo, a felicidade alheia, a expressão de ser o organismo vivo que lhe permite ser. A corrente que condiciona o carrinho masculino, a boneca feminina; a camisa azul ou preto e branco, a blusa decotada pomposa escarlate ou amarelo-bebê; os filmes de ação e aventura, as comédias românticas; o rock, o pop; o algoz, o delicado. Mas, mal sabem aqueles que condicionam ou que se acham detentores do meio de produção desse sistema que todo esse conjunto de ações, fatos, pensamentos e crenças levam à decadência pessoal; ao engano de uma produção, que não passa apenas de produtos desolados, forjados em sua própria macheza forçada goela abaixo, que, assim como no sistema de produção, reproduz sem ter noção do meio em que si próprio está submetido; a corrente, na verdade, não está no oprimido, no lado frágil, mas sim no opressor, que se engana ao achar que detém essa força psicológica, quando na verdade amarra, aos poucos, as algemas em seus próprios pulsos. A chave da abertura dessa tranca está em algum lugar de si mesmo e, se posso lhes dar uma pista, reside no canto da mente onde abrigam, empoeirados, o seu preconceito, o seu medo e a sua impotência de saber lidar com a sua própria liberdade, a liberdade alheia que não lhe compete, a sua própria expressão e as mais variadas formas culturais de se ver e de se viver. Não vai amarelar agora, não é?
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BioGraduando de Arquitetura e Urbanismo, amante da música e de séries e filmes. Séries em andamento sempre que a arquitetura deixa. Ama os amigos como família e a família como anjos divinos encarregados de nos transbordar amor. Os melhores momentos da vida foram, são e sempre serão ao lado daqueles que te dão o conforto nos (a)braços do amor.
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Dizem por aí que tenho o dom de encantar com as palavras. Verdades ou boatos, continuo escrevendo como forma de levar às pessoas o que sinto, o que passo e o que penso. As conexões entre aquelas, por assim dizer, faz-se de grande importância para que o objetivo final das palavras soadas (ou escritas) seja alcançado. Ou seja, de que se transponha a força do pensamento e a pureza do coração.
Bem vindxs ao Indeed, onde o de fato figura-se entre as mais singelas incertezas. @vinirodriguesarq
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